Todos os anos, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são jogados nas latas de lixos de todo mundo. O Brasil, por exemplo, desperdiça anualmente cerca de 41 mil toneladas de alimentos, entrando para a lista dos 10 países que mais desperdiçam comida em todo mundo.
Segundo Allan Boujanic, representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil, cerca de 30% de tudo o que é produzido no mundo é desperdiçado e perdido antes de chegar à mesa do consumidor. Isso provoca, segundo a FAO, um prejuízo econômico estimado em US$ 940 bilhões por ano, o que corresponde a cerca de R$ 3 trilhões.
Para Viviane Romeiro, coordenadora de Mudanças Climáticas do World Resources Institute (WRI) Brasil, atualmente temos cerca de 7 bilhões de pessoas no mundo e a estimativa é que, em 2050, seremos 9 bilhões. “Enquanto isso, aproximadamente 1 bilhão de pessoas não tem acesso adequado e sofre com desnutrição e falta de alimento adequado. Então, primeiramente, essa é uma questão de segurança alimentar”, afirma.
Mas você sabe como reduzir o desperdício de alimentos?
Na matéria desta semana nós conversamos com a gastrônoma Renata Hobeika, que mora em Ilha Bela – litoral de SP, e atua no ramo da alimentação desde 2013. Sua experiência passa por restaurantes japoneses, vegetarianos, mexicanos, franceses e crudívoros (que aprecia ou prefere alimentos crus).
Para Renata, a importância de não desperdiçar alimentos vai bem mais além do que o fator financeiro. “É também uma questão de consciência e respeito pela natureza, que não produz um alimento para nós na mesma velocidade na qual o descartamos. Alguns vegetais, frutas, legumes, podem levar meses para se tornarem maduros e ideais para o nosso consumo. Todos sabem disso, mas quando essa informação é nítida o suficiente, passamos a olhar o alimento como uma produção feita para nós, e não como um simples produto.”
A gastrônoma também ressalta sobre o respeito pelos seres envolvidos em todo processo de produção dos alimentos como: o cuidado com a terra e as as sementes, os estudos para uma boa produção, a energia dos trabalhadores, e depois, a energia para a embalagem, o transporte, a entrega, a venda, até que finalmente chegue às mãos de alguém que o prepare para ingestão.
“Logo, ao excluir um alimento ou alguma parte dele que pode ser aproveitada, não só o alimento está sendo desprezado, mas todo o esforço da terra e do ser humano para disponibilizá-lo também. O desafio é transformar os velhos hábitos enraizados, criar alternativas criativas, conscientizar as pessoas da nossa família, ao nosso redor, mas principalmente disciplinar o nosso eu e prepará-lo para uma realidade muito mais consciente e cheia de harmonia que vem se aproximando”, acredita.
Renata conta que quando trabalhou em um restaurante crudívoro, pouco resíduo tanto reciclável como orgânico era gerado. Ela nos contou que diariamente era no máximo um saco pequeno de lixo. “Nossa líder sempre repassava os conceitos para podermos economizar no uso de água, de energia, na geração de menos descartes, no aproveitamento do alimento de forma integral sempre que possível, no consumo de orgânicos de produtores locais. Havia também uma preocupação com as embalagens para viagem, além de uma sacola própria para evitar o uso de sacolas plásticas.”
Para ela, quem está nesse ramo, é muito importante além busca por informações, se permitir a conhecer novos sabores e texturas, e claro, compartilhar essas novas descobertas para beneficiar a todos.
“Não devemos ter preguiça de mudar, de ir contra a maneira que estamos acostumados a agir. Muitas vezes sabemos o que é certo e errado, mas por diversos motivos não conseguimos aplicar o certo no nosso cotidiano. Temos o total poder de conseguir unir a filosofia a prática.”
Para gestores de restaurantes, bares e lanchonetes, o Sebrae disponibiliza gratuitamente em seu site um guia de como evitar desperdícios de água, energia, poluição e controle de matéria-prima e resíduos. Para acessar o conteúdo, clique aqui.
Bônus receita: Patê de caroço de jaca
Para desmitificar e aproveitar totalmente o alimento, Renata compartilhou conosco uma receita rápida e fácil e super saborosa com um ingrediente que é bastante descartado.
Você vai precisar de:
– Caroços de uma jaca
– Temperos a gosto
– Água
– Processador de alimentos ou liquidificador
Passo a passo
– Cobrir com água os caroços em uma panela de pressão e deixar cozinhar durante 15 minutos após pegar pressão. (Em panela normal, cozinhar por aproximadamente 30 minutos, até sentir que eles estão al dente).
– Retirar as cascas dos caroços
– Refogar em uma panela os temperos do seu gosto, exemplo: alho, pimenta, cebola (também é possível adicioná-los crus a receita, o cozimento serve apenas para suavizar o sabor)
– No liquidificador ou processador unir os caroços, os temperos refogados, e alguns verdinhos como salsinha, alho poro, coentro, cebolinha, a criação é livre
– Agregar sabor e cor com páprica, açafrão, sal, ervas, é uma ótima opção
– Bater com a água do cozimento dos caroços até atingir a consistência desejada, e pronto!
O caroço cozido se assemelha bastante ao gosto do pinhão e da castanha portuguesa, pode ser servido como aperitivo também!